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A Pandemia deixou e ainda deixa centenas de sequelas em seus sobreviventes, desde uma simples alteração de olfato até sequelas irreversíveis em órgãos vitais.

A grande maioria de sequelas é COGNITIVA, ou seja, de que forma os órgãos dos sentidos captam as informações reais e a transformam numa mensagem compreendida pelo cérebro?

Parece simples mas não é. Uma pessoa que tenha deficiencia auditiva pode compreender os fonemas de forma bem diferenciada e até oposta. E isso já ocorria antes da Pandemia e se intensificou ainda mais, já que a COGNIÇÃO, a compreensão da realidade, é um dos aspectos mais atingidos e importantes.


As crianças crescem mais devagar, largam as fraldas após os tres anos, andam mais tarde, falam mais tarde, demoram um pouco mais para se socializarem, etc. As que foram geradas e nasceram durante os 2 anos e meio de tormento mundial ocidental, não tiveram acesso aos estímulos habituais de antes, não foram para creches ou jardins de infancia, não conviveram com outras crianças a não ser um ou outro irmão(ã), quando havia. São frutos de uma existencia solitária, sem estímulos, com pais ocupados trabalhando dentro da mesma casa, cada vez mais estressados e cansados e sem direito aos passeios, ao convivio com amigos e parentes. A criança aprende por observação, copiando e tentando fazer como todos fazem. Mas não havia outras crianças e muitos cresceram sozinhos, sem falar, sem compreender, sem se movimentar o necessário e o pior, sem pais presentes emocionalmente.


O Covid despertou um turbilhão de postagens de profissionais de extrema responsabilidade, que muito auxiliaram em todos esse processo, digamos, inimaginavel! Outros, motivados pelo ócio, imagino eu, e pela pouca compreensão de seu papel social, puseram-se a exacerbar um tema que é real, mas jamais deveria ter sido usado naquele momento de fragilidade emocional.


Refiro-me aos escritos psicanalíticos de Freud, Jung, Melaine Klein, Winnicot, Rogers, entre tantos outros, antigos ou modernos, sobre a responsabilidade familiar na criação de seres humanos de qualidade.

Havia dias que chegava a ler dezenas e dezenas de quadros em letras maiusculas, enfatizando coisas como: "Eu sou o que fizeram de mim", "Por tras de todo adulto infeliz existe uma criança oprimida", "Estou me ressignificando, dia após dia", "Carinho foi tudo que mais me faltou".... enfim. Frases reais e até corretamente referendadas, até frutos de pequenos delírios, copiados de um "autor desconhecido".


O Ser Humano evolui e julgar uma situação sem contextualiza-la em seu tempo/espaço é um grande equivoco.

Lembrem-se: nós mulheres só fomos participar de uma eleição após 1948 e até o início da década de 50, trabalhar "fora" era algo vergonhoso a qualquer uma de nós. Isso quando o marido nos "concedia essa benesse. Ainda assim, tinhamos que manter a 2ª e 3ª jornada de trabalho. Trabalhavamos fora, depois cuidavamos dos afezeres escolares dos filhos e ainda preparavamos o jantar, sem qualquer participação do marido, salvo raríssimas exceções.


Lembro-me de ter assistido uma cena desse tipo no filme sobre a vida da Dra. Nise da Silveira, que após um trabalho da maior valentia e criatividade já assistido nos meios psiquiátricos, também colocava o avental e preparava o jantar enquanto o marido lia o jornal.


Alguns profissionais descompromissados com a dor causada pela Pandemia, puseram-se a falar da familia como um apendice, como um cancer, que teria causado outro, sem nenhuma base teórica que os sustentasse.

Mas assim como eles, outros tantos também estavam desocupados, desempregados e começaram a distanciar-se da realidade, a ponto de agredirem vebal e fisicamente seus pais e avós, como se fossem os responsáveis por estarem sós, infelizes, sem bens financeiros e sem expectativas.


Os incautos que aderiram a esse "modismo" precisam estudar, ler, ouvir e se possivel, se tratar com profissionais aptos. Sim, nossos pais estiveram conosco enquanto contruiamos nossas personalidades, alguns apanharam, outros não, alguns tiveram acesso aos estudos, outros não, alguns tiveram excelentes condições financeiras, outros não. Mas esse não era um problema deles, mas de quem acreditava que estava envolto em PERFEIÇÃO, em todo e qualquer sentido.


Francamente viamos que havia um surto coletivo nesse sentido, mas a necessidade de auxiliar familias e salvar vidas, em especial a de pessoas que permaneceram entubadas por mais de duas ou tres semanas, era muito mais importante do que cuidar de um "surto", permeado mais pela ignorancia do que pela dor e mais pelo individualismo do que pelo NARCISISMO "diagnosticado" aos pais.


Evidente que havia e ainda há casos absolutamente compativeis, mas essas pessoas procuravam ajuda em silencio e respeito, até porque o Brasil é campeão em termos de abusos psíquicos e físicos a muito mais tempo do que se imagina.


O estardalhaço de possiveis profissionais levou ou contribuiu para uma cisão familiar sem volta e os filhos dessa geração de pessoas crescerá com a ideia que lhe ensinaram: os pais são sempre os culpados, portanto, imagina-se o que pode vir por ai


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Se já sabemos que as proximas gerações serão mais solitárias e individualistas, que gostarão mais de ficar em casa do que na rua, que preferirão cultivar plantas do que cargos e que consumirão coisas nem sempre tão concretas como casas e carros, mas artigos abstratos como estudos, terapia, viagens e amigos que caberão em menos de uma mão, é óbvio que estaremos em um NOVO MUNDO. Dificil dizer se é melhor ou pior do que ficou em 2019, porque em 2020 iniciou-se a revelação da qualidade DO SER HUMANO. E creio eu, que precisaremos de muitos seres humanos para cuidar dos humanos que ainda estão por aqui e para amparar os animalescos seres, travestidos em humanos, que sobreviveram a essa hecatombe.


Como diria Freud: "As vezes um charuto é só um charuto"!!!





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