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Era fevereiro e o sol de verão trazia alegria aos corações brasileiros. A mim, particularmente, o dia e o mês em que tomei conhecimento da repatriação de 34 brasileiros que viviam na cidade chinesa de Wuhan, e picentro do novo coronavírus, era um momento de grande felicidade. 09 de fevereiro foi o dia em que recebemos as chaves de nossa nova casa e a apresentamos aos netos. Entre surpresas, vídeos, fotos, muitos sorrisos, comemoração do aniversário do nosso filho mais velho, algo de tenebroso nos rondava, mas ainda era impossível entender do que se tratava. Apenas no final de fevereiro o primeiro caso de coronavírus foi confirmado. Tratava-se de um homem de 61 anos que havia viajado à Itália e deu entrada no Hospital Albert Einstein em 25 de fevereiro. As festas carnavalescas haviam acontecido na semana anterior à confirmação do segundo caso em solo brasileiro. Era um homem de 32 anos que havia viajado à Lombardia, também na Itália. No inicio de março já contávamos 08 casos confirmados e mais de 600 suspeitos. Dois dos casos não estiveram na Itália, mas tinham relação com os contaminados e já se falava em “contaminação comunitária”. Um adolescente de 13 anos, confimado como contaminado, era assintomático. O Ministério da Saude adquiriu 500 mil máscaras modelos N95 e quase 19 milhões de máscaras cirúrgicas. Também foram adquiridos óculos, álcool em gel e luvas. Parecia que uma onda gigantesca se criava num mar, antes tranquilo, e movia-se de forma assustadora. Em 11 de março a Organização Mundial da Saude declarou a Pandemia de Coronavirus, anunciando que as contaminações e as mortes se alastrariam nos dias seguintes. Em 13 de março o Ministério da Saude regulamentou o isolamento social e a quarentena, como medidas preventivas contra o aumentos de casos. Em 17 de março aconteceu a primeira morte por coronavírus no Brasil. Era um homem de 62 anos de idade, com histórico de hipertensão e diabetes. Dia19 fiz meu último atendimento presencial no consultório onde passei 16 anos de vida profissional, sem conseguir me despedir muito bem de tudo que ali existia, além de arquivos e moveis. Estavamos contruindo um novo consultório, que só seria parcialmente usado, cerca de 5 meses depois. Até aqui já sabíamos ou supúnhamos que idosos com co-morbidades eram os mais vulneráveis e que precisaríamos de álcool gel, máscaras e luvas, além de praticar o distanciamento social. Mas o que era mesmo esse “Distanciamento Social”? Nós brasileiros, que sempre fomos apegados aos abraços e beijos, na chegada e na saída, teríamos muita dificuldade o que estava acontecendo. Em alguns dias víamos diante de um vocabulário diferente (isolamento, quarentena, pandemia, contaminação, etc) e começamos a nos familiarizar com o álcool em gel, que sumiu das prateleiras de farmácias e supermercados, das luvas de proteção (cirúrgicas ou não), das máscaras (nos mais diversos modelos), da higiene à enésima potencia, com o computador na mesa da sala, ao lado de mais alguém com quem iriamos partilhar a quarentena. Nas ruas o silencio imperava, poucos carros, poucos ônibus, comercio fechado e muito MEDO! A palavra de ordem era: FIQUE EM CASA!! E onda....aquela que se formava num mar tranquilo, já começava a invadir os territórios e não conseguíamos saber, exatamente, o que estava acontecendo. Todos passamos para tras de um computador, exceto profissionais da linha de frente da Saúde, que paramentados ao extremo, cuidavam dos casos como era possível. Afinal, estávamos diante de um MONSTRO INVISIVEL, um microscópico ser “enfeitado” de coroas, daí seu nome: Coronavirus! Estávamos apenas no fim de março e ele já tinha feito centenas e centenas de vítimas nos quatro cantos do mundo! Essa história não termina aqui, infelizmente. Meu objetivo é deixar registrado esse 2020 para as gerações futuras, sob o ângulo de quem a viveu como profissional de saúde e cidadã do mundo, inclusive com perdas em família, entre amigos e pacientes. Creio que viver tudo isso sem deixar nada registrado seria, no mínimo, um grande desperdício. Não me interessa a defesa de teses e aplaudo quem as esteja providenciando. Meu objetivo é bem mais modesto. É saber que daqui 50 anos as gerações que hoje não conseguem compreender nada do que ocorre e são as mais atingidas, tenham recursos para avaliar como era o mundo ANTES DO COVID-19. Se hoje nossas crianças não sabem o que é o mundo sem um computador, uma rede wifi e um celular, imaginem quando quiserem entender como era antes de 2020!!! 2020 não existiu!!! Ele apenas abriu um hiato gigantesco entre PASSADO E FUTURO!!!!


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