top of page


OS PRIMEIROS MESES DO CONFINAMENTO


Estavamos evoluindo em termos de “conhecimento da doença”, mas ao mesmo tempo paralisados diante de novos casos. Até então contávamos com um Ministro da Saude que nos orientava dia após dia, de forma didática e clara, até porque tratava-se de um médico. Isso não aliviava nossa preocupação, mas pelo menos tínhamos informações compreensíveis, explicadas de forma que todos pudessem compreender. Bão tardou para que ele fosse infelizmente colocado para fora do governo e na 1ª semana de abril de 2020 estava nos com 691 mortos pela Covid-19. Os leitos das UTI’s começavam a ficar lotados, os balanços apontavam para um cenário devastador.

Hospitais particulares tiveram que colocar seus leitos à disposição daqueles que não podiam pagar. Centenas e centenas de cidadãos em excelente condição financeira foram atendidos em hospitais públicos e muitos em situação abaixo da linha da pobreza, pereciam na magnitude de alguns hospitais particulares de luxo.

O monstro que nos atacava além de invisível e desconhecido, também não escolhia quem seria atingido e morto. Como lidar com ele? As mortes aumentavam dia a dia. Na primeira semana de abril fechamos com 801 casos e no dia 10 de abril de 2020 já contavamos 1056 mortes.

A cada dia assistíamos a mais cenas de covas abertas em enormes terrenos. Vistas de cima pareciam milhares de pequenos buracos numa gigantesca fazenda. Eram covas que abrigavam até 5 caixões, um sobre o outro, com anotações apressadas e famílias assustadas por não terem tido a oportunidade de verem ou velarem seus entes queridos.

Os velórios ocorriam em no máximo 1 hora com a presença de 4 pessoas, com o caixão lacrado.

Psiquicamente essas mortes não estavam elaboradas. O Ser Humano necessita ver, tocar, ficar ao lado do corpo sem vida para iniciar o doloroso processo de luto. Muitos apenas haviam internado um pai, uma mãe, um irmão e só veria seu caixão totalmente lacrado descendo rapidamente para a cova disponível.

Lembro-me que ainda havia um certo desespero no olhar dos familiares, mas com o tempo e a velocidade da devastação, a morte passou a ser praticamente uma certeza.

Junho de 2020 foi um dos meses mais marcantes do inicio da Pandemia. Até então já se contavam 59.594 óbitos no território nacional.

Todas as áreas da Saúde, no Brasil e no mundo, voltavam seus olhos e atividades para a prevenção quanto à contaminação. Todos os profissionais passaram a utilizar equipamentos antes nunca experimentados. Aventais, toucas, proteção para os pés, máscaras, luvas, etc. O distanciamento social era necessário e as pessoas iniciaram seus trabalhos, antes desenvolvidos em escritórios, em suas próprias residências. As aulas teriam que acontecer remotamente e nem todos tinham acesso a computadores ou celulares e wifi para cumprirem o mínimo. Na verdade ninguém estava preparado para tudo aquilo e quem precisava sair de casa o fazia com medo e munido de um arsenal de novos elementos, entre eles o álcool gel, que logo sumiria das prateleiras.

A pergunta que mais ouvia em meu consultório (um dos dormitórios de meu apartamento), era: até quando vc acha que vai tudo isso? Não havia respostas. A esperança estava no desenvolvimento de vacinas e a primeira a ser colocada à disposição foi a Russa, Sputnik 5, rejeitada pela comunidade cientifica internacional por não ter cumprido as 3 fases de testes. E já estávamos em meados de agosto de 2020. Nove outras vacinas já se encontravam em fase de testes, entre elas a Coronavac e a de Oxford.

Sendo um ano de eleições, a necessidade urgente de vacinação misturou-se a interesses políticos. E o Brasil era o 2º pais em numero total de casos, perdendo apenas para Estados Unidos e India.

1 visualização0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
bottom of page